Roubos, nomes inseridos indevidamente no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), falta de energia elétrica, placas fotovoltaicas defeituosas. Essas foram as principais reclamações dos habitantes das Ilhas de Manga, durante audiência pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada na manhã desta segunda-feira (06/05) no plenário da Câmara de Vereadores de Manga, envolvendo as Comissões de Assuntos Municipais e Regionalização e de Minas e Energia. Depois de quase três horas de debates, o autor do requerimento que originou a audiência pública, deputado Paulo Guedes, encaminhou outras três solicitações que serão votadas pelas respectivas Comissões, nesta terça-feira (07/05), em Belo Horizonte.
    
Os requerimentos pedem a suspensão da cobrança das tarifas de energia da Cemig, a retirada do nome dos moradores inadimplentes do SPC e, principalmente, estudos técnicos para que a companhia de energia do governo do Estado instale em todas as ilhas o sistema convencional. De acordo com o parlamentar, o programa do governo federal “Luz para Todos” trouxe a energia elétrica para as ilhas do rio São Francisco, mas o fato da Cemig ter usado placas de energia solar fotovoltaica com essa finalidade gerou muitos problemas aos moradores. Segundo ele, “a maioria das placas não funciona, quando funciona não atende as demandas dos moradores. Eles não podem nem ter geladeira em casa. Alguns dos habitantes tiveram as placas roubadas. Tem até um morador que morreu durante o roubo de sua placa e mesmo assim continua recebendo as contas da Cemig e deve estar com o nome no SPC. Muitos estão com o nome sujo por não pagar as contas de luz e se não pagam é porque o serviço não é prestado. Queremos que as ilhas recebam a energia de forma convencional, algo tão necessário para eles” – continuou Paulo Guedes, ponderando ainda que “a Cemig é uma empresa pública e lucra bastante com o dinheiro da população de Minas Gerais”.

O prefeito de Manga, Anastácio Guedes, destacou o quanto a energia elétrica tem sido uma necessidade não só para os cerca de 500 moradores das três ilhas, mas para moradores de outras ilhas da região, ao longo do Rio São Francisco. “Eu, como prefeito, sei das dificuldades desse povo. Queria pedir a vocês, deputados, que olhassem com carinho para essas pessoas. O meu gabinete está aberto para atender a todos, sobretudo aqueles que mais precisam da atenção do poder público”.
 
O presidente da Câmara Municipal de Manga, vereador Leonardo França Pinheiro, ressaltou a importância da presença dos deputados na cidade. “Hoje nós estamos dando um grande passo, com a vinda dessas duas comissões da ALMG. É inadmissível que em pleno século XXI em ilhas com grande potencial de produção se viva à luz de velas” – destacou o dirigente do Legislativo, salientando ainda que durante seu mandato não medirá esforços para que iniciativas desse porte possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida do povo de Manga, lamentando ainda o fato de que, além de não terem o serviço, os moradores sofrem com a inclusão de seus nomes no SPC.
 
A presidente da Associação da Ilha de Curimatá, Patrocínia Néri Almeida, relatou casos de roubos de placas, nos quais os ladrões se identificaram como sendo técnicos da Cemig e levaram os aparelhos com promessas de serem substituídos por novos. O presidente da Associação da Ilha da Ingazeira, Celino Lélis de Oliveira, relatou não só a dificuldade passada pela falta da energia elétrica, mas também a escassez de água potável. “Esse ano eu quase morri por ter consumido a água poluída do São Francisco, uma bactéria quase me matou. Muitos não têm condições de buscar água limpa, os mais idosos”. A presidente da Associação da Ilha do Corculho, Rosineide Pereira da Silva, endossou a luta que tem sido para a comunidade a questão da energia convencional. “Sem isso, não somos nada. E não podemos perder a vida lutando contra assaltantes por algo que não vai dar resultado pra nós”.
 
A agente de Comercialização da Cemig, Cristina Bispo Barbosa, explicou que, por causa da legislação do programa “Luz para Todos”, todos os habitantes que receberam as placas são considerados como “energizados”. Ela esclareceu que todas as demandas recebidas durante a reunião serão levadas à diretoria da Companhia. “Em relação às contas, os clientes cujas placas não estiverem funcionando podem ligar para o telefone de atendimento da Cemig, o 116, para tirar o nome do SPC. Eles também podem solicitar por esse mesmo número a retirada da placa defeituosa. E as pessoas podem me passar suas contas ou o nome completo e o CPF e vou pedir a retirada do nome de todas. As que não estiverem aqui podem ir aos postos de atendimento em Januária e Itacarambi e pedirem para retirar os nomes” – destacou a agente, que ainda no plenário da Câmara de Vereadores de Manga recebeu as contas de energia dos habitantes das ilhas para a tomada de providências, entre as quais a imediata retirada de seus nomes no Serviço de Proteção ao Crédito.

Fotos: Manoel Freitas
Texto: Priscila Armani e Manoel Freitas