O TEMPO começa nesta segunda a publicar série de reportagens sobre expectativa de moradores com obra
Johnatan Castro
Enviado especial Jornal O Tempo
Berizal e Taiobeiras.Há apenas três anos, a trabalhadora rural Maria Aparecida, 42, não tinha sequer energia elétrica em seu sítio, em Berizal, cidade no Norte de Minas. Hoje, melhorias chegaram à região conhecida como Alto Rio Pardo, mas Maria e moradores de ao menos cinco cidades vizinhas ainda aguardam o benefício mais importante: a conclusão da barragem do Berizal. Paralisada há 17 anos, a obra é apontada como a solução definitiva para a falta de água, problema que há anos provoca prejuízos a quem depende do rio Pardo. Sem resistir à estiagem, o curso d’água seca em vários pontos ao menos uma vez por ano.
A promessa é que a barragem seja incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 3 e receba R$ 251 milhões para que finalmente entre em operação, conforme estudo técnico entregue pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) ao Ministério da Integração Nacional no último dia 15. No início deste mês, a reportagem percorreu mais de 2.000 km para conversar com a população simples e acolhedora do Alto Rio Pardo. O material começa a ser publicado nesta segunda, em uma série de três reportagens.
Vítimas da tragédia periódica da seca, a maioria dos moradores sonha em ver a obra concluída e o rio cheio durante todo o ano. As cidades de Berizal, Indaiabira, Ninheira, São João do Paraíso e Taiobeiras serão diretamente beneficiadas pela obra.
Maria divide com a família um terreno de 72 mil m² às margens do rio. Há três anos, os 50 membros da família usavam água do rio até para beber e cozinhar. Hoje, um reservatório capta a água da chuva para as necessidades mais básicas, e a lavradora usa bomba elétrica para retirar a água do rio e irrigar a plantação de milho, feijão e mandioca. Nesse mês, confiando nas águas do Pardo – que em 2012 e 2013 secou por vários quilômetros – a agricultora fez um empréstimo de R$ 15 mil para ampliar a produção de alimentos. “A gente tinha que cavar os poços que restaram para conseguir água. Em 2012, andávamos 2 km para buscar água, trazida com tambor, no carro de boi”, conta a mulher, batizada sem sobrenome.
Os prejuízos também são acumulados por Antônio Bahia dos Santos, 37, que divide uma casa simples com o pai e seis irmãos. Em 2012 e 2013, todos beberam água dos caminhões-pipa enviados pela prefeitura. Nas plantações de milho, mandioca e feijão da família, foram investidos R$ 7.000 em 2012 e outros R$ 5.000 em 2013. “Perdi quase tudo. A sorte é que recebi seis parcelas de R$ 155 do Seguro Safra (da União). Com a barragem, a gente poderia plantar o ano todo.”
Ajuda
Muitos moradores da zona rural e das cidades da região recebem ajuda da União e das prefeituras. Reservatórios foram distribuídos para que a população armazene água da chuva. Caminhões-pipa abastecem a região com frequência.
Datívia Machado dos Santos, 69, mora a menos de 500 m do rio e já se prepara para quando ele secar. “Faltou água em 2012, e a gente colocava a bomba onde tinha um pocinho. Perdemos quase 30 cabeças de gado. De uns tempos para cá, o rio está secando muito. Se não chover, vai ficar ainda pior.”
Chuva
Segundo o Centro de Climatologia PUC Minas, em meses de janeiro são esperados 176 mm de chuva para a região. Em 2012, foram 65,6 mm. Em 2013, 164,5 mm e, neste ano, 26,3 mm.
Licitação
Até o fechamento desta edição, o Dnocs não havia confirmado a inclusão da barragem de Berizal no PAC 3. Ainda não há prazo previsto para a licitação da obra.
A inclusão da Barragem de Berizal no PAC
Em reunião realizada no dia 15/4, no Ministério da Integração Nacional, em Brasília, foram definidos os últimos detalhes para colocar a Barragem de Berizal no orçamento do governo federal. Pendências como a adequação das planilhas de custo para as obras de reassentamento e condicionantes ambientais foram resolvidas. O secretário Executivo do Ministério, Irani Braga Ramos, anunciou o fechamento da nota técnica definitiva, que foi ao Ministério do Planejamento para que, finalmente, os recursos sejam incluídos na terceira etapa do Plano de Aceleração do Crescimento – PAC 3.
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