Artigo publicado pelo Jornal O Tempo, de Belo Horizonte, em 11/02/11

 

 

 

Quem tem conforto em casa, que pode abrir a geladeira e beber uma água gelada, tomar um banho gostoso, girar a torneira e vê-la jorrar, experimente passar um dia sem água. Não sou demagogo; defendo a transposição das águas do Rio São Francisco não é pelo vínculo partidário com o governo; sou um sertanejo que já sentiu na pele o que é a seca. Criado no Norte de Minas, cresci vendo a minha mãe carregar água na cabeça. Para os que se dizem conhecedores sobre meio ambiente, mas que não sabem o que é o flagelo da seca, a transposição é uma obra inviável, de alto custo e de interesse político, mas para quem convive com o drama da falta d’água, ela é sinônimo de esperança e de vida.

O projeto vai bombear água para o leito de outras bacias hidrográficas que, historicamente, são atingidas pela falta de chuvas. Os canais transportarão 26,4 metros cúbicos por segundo de água – ou seja, apenas 1,4% da vazão média do São Francisco após a barragem de Sobradinho. É uma pequena quantidade de uma água que, inevitavelmente, vai para o mar. O rio não anda para trás, mas esta água que é despejada no Oceano Atlântico pode matar a sede de 12 milhões de pessoas e gerar 5 mil empregos no semiárido, evitando que famílias se mudem para os centros urbanos onde podem se perder de vez.

O Projeto de Transposição não é criminoso. Criminosa é a omissão de governos que jamais assumiram qualquer iniciativa oficial para combater tal problema. É equivocada a afirmação de que a transposição vai reduzir as águas do rio São Francisco, dificultar a navegação ou acabar com os peixes. O projeto faz parte do marco regulatório de abastecimento de água do Nordeste e não trata apenas de desviar o curso do rio, mas de uma completa revitalização que já pode ser vista em todos os municípios ribeirinhos. O programa contempla ações de reflorestamento, controle da irrigação, construção de barragens, melhoria da calha navegável, esgotamento sanitário e um intenso trabalho de educação ambiental. Só no Norte de Minas, mais de 30 municípios estão recebendo investimentos nessas áreas, com recursos que somam cerca de R$ 500 milhões.

Considerado o “rio da integração nacional”, o São Francisco percorre cinco estados (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), fazendo a ligação entre o sudeste e o nordeste brasileiro. Em Minas Gerais, a bacia ocupa 40% do território estadual e representa 70% de seu Produto Interno Bruto (PIB). É preciso cuidar desta região que é considerada a “caixa d’água do Velho Chico”. A degradação do rio – poluição, assoreamento e agressão às suas matas ciliares – já dura centenas de anos e a sua revitalização não é uma ação de curto prazo e tampouco de responsabilidade somente do Governo Federal. Os governos estaduais e municipais devem ampliar suas ações e trabalhar juntos para o enfrentamento do problema. É preciso que haja desenvolvimento com responsabilidade e sustentabilidade, para garantir que o Velho Chico continue a levar vida por onde passa.

Deputado Estadual Paulo Guedes